Espera

Eu precisei desapegar. Precisei descentralizar e mudar. Mas, nada do que eu esperava chegou perto do que foi ver você, tão pequeno e tão forte se fazendo gente e eu ali passiva e espectadora. Bastou ouvir seu coração acelerado e ritmado para que o meu coração se entreleçasse ao seu eu me orgulhei e me confundi, você sou eu ou eu sou você? Nós somos um e você mora dentro de mim, quero tanto te conhecer. Olhar você, te reconhecer e você a mim. Eu queria preparar muito mais que um enxoval e um quarto, pedacinho de mundo seu, eu queria limpar o mundo deixá-lo mais azul, verde, rosa, cintilante. Eu queria poder te livrar de todo sentimento ruim, de perceber sensações desagradáveis. Queria te blindar, mas não posso. Não faz sentido, mas a gente precisa de tudo pra viver. Mas, eu posso te apresentar os Beatles, as ilustrações do Stephen M. King, o vento, a flor, a maravilha que é a água, uma manhã ensolarada. Ah, eu vou te mostrar o mar nada se compara a ele. Além da mágica da fotografia, dos legos, do barquinho que nasce de uma folha de papel. Vou te esperar, ansiosamente, pra gente brincar de viver.

O outro lado

Geralmente é um dia normal. Geralmente nada de extraordinário aconteceu. Parece que quando tudo parece está tranquilo e seguindo como deve ser, afinal de contas agora eu tenho um emprego, então nesse momento surge uma necessidade devastadora de instabilizar. Preciso dessa vontade, como uma outra que vive dentro de mim, para lembrar-me que eu não sou comum, que não gosto da normalidade, que não gosto dos dias planejados, certinhos. Ah, por favor, me leve para dançar e desmanchar em suor, me leve para tomar um porre (de vinho) e depois me beije como se nunca tivesse me beijado e nesse momento não pense mais em nada e , por favor, não me deixe pensar e depois faça algo que nunca tenha feito, me faça sentir o que nunca senti. Me mostre o novo. Me mostre o intenso, me leve para um lugar que não possa ser chamado de "comum". Eu já tentei ser feliz com o que os outros esperam a vida inteira, não deu certo, não quero repetir os erros porque hoje sei quem sou e o que funciona comigo.
Posso ser mil e às vezes gosto e até confundo-me com os personagens que enceno é como "se eu fizesse cinema". Mas uma hora me canso de todas elas e sinto falta de mim mesma, do eu que gosta de paixão, de tatuagem, de Rolling Stones e das músicas do Chico que falam de como se sentir mulher. Ah, meu amor, eu não tenho pressa, eu tenho sede!

Ela

Longe ela nunca esteve tão perto. Hoje entendo tudo, tudo que antes não fazia sentido algum. Ela é tão doce e ilumina todos os meus dias. Me fez ser o que sou hoje e nesse meu "hoje" eu a vejo em atitudes minhas, no meu dia a dia de gente grande. Só ela sabe ensinar com um jeitinho que nos faz pensar se ela sabe mesmo o que está fazendo. Triste foi despedir-me, triste foi aquele olhar dela entrando na sala de embarque como quem queria me parir pra dentro dela de volta, fazer o processo inverso, me fazer voltar pro seu ventre, pro centro da sua vida. O que ela ainda não percebeu é que minha vida nova é um esticamento da dela, que eu sou um esticamento dela mesma e que um dia um alguém esticamento meu vai ser mais um esticamento dela e eu vou tentar, só tentar, ser a mãe que ela foi e é para mim. Já começarei meu desafio sabendo que não conseguirei, como ser moleca e se impor? Ou como acolher todos e na hora certa, apertar o coração no peito, engolir o choro e dizer " a escolha é sua meu bem e eu te apoio no que você decidir" Só ela sabe ser assim, só existe ela assim e ela é minha...minha mãe. Te amo sem caber no peito. FELIZ DIA DAS MÃES!

Mundo inquieto

De vez em quando, só de vez em quando, o mundo podia parar, não girar mais e deixar tudo como estava. Ele podia parar, principalmente, para pessoas como eu, alienígenas que ainda acreditam em amor e em romance, que perfumam a casa e que colhem flores para enfeitar a mesa. Pra gente que faz o que não sabe e não gosta só pra agradar, pra gente assim que só quer ser feliz à dois, que se joga, que se entrega, que arrisca tudo, pra gente assim o mundo não devia girar. Pra gente que gosta de dá e receber carinho, colo, cafuné, pra gente assim nada devia mudar, nem quebrar. É que o que quebra não cola mais e pior que não colar é o remendo, a gente olha pro remendo e lembra do dia quebrou, daquele dia que o brilho diminuiu, que a paz acabou um pouquinho e que a "perfeição" e a sensação de inédito passou. O pior do mundo girar e das coisas mudarem e quebrarem é a sensação de que antes de tudo isso acontecer tudo era tão bom e tão leve e doce.